Documentário vai além da afinação de Sandy e da superação de Júnior

A história de Sandy e Junior revela as dores e as delícias do mercado e o movimento gerado por trás das cortinas da indústria cultural

O documentário “Sandy e Junior – A História”, sobre a trajetória de Sandy Leah e Junior Lima, disponível na Globoplay, é envolvente por contar a história de dois artistas que cresceram sob os holofotes da mídia. Creio ser o primeiro com material tão rico de imagens, característico de uma geração que cresceu com as facilidades dos registros digitais. Apesar de, em alguns momentos, soar mais como um grande arquivo confidencial do que um documentário, é relevante por mostrar como funciona a engrenagem que movimenta a indústria da arte e do entretenimento no Brasil.

Independente de gostar ou não do estilo da dupla, ninguém pode negar sua trajetória de sucesso, o carisma e profissionalismo dos irmãos e os números impressionantes que movimentam no show business.

Os ingressos para os shows da turnê “Nossa História” esgotaram em menos de 24h, arrecadando 120 milhões de reais e, de acordo com um ranking publicado no jornal The Washington Post, foi a segunda turnê mais lucrativa do mundo no ano passado, faturando 2,2 bilhões de dólares, ficando atrás apenas de…Elton John.

Eles mesmos comentam que estavam redefinindo os padrões no Brasil ao montarem um palco em Jaguariúna para ensaiar e testar o show com tudo pronto antes da estreia. Infelizmente poucos artistas brasileiros conseguem montar essa estrutura.

Para os leigos, acho vai dar a dimensão do número de profissionais necessários para fazer girar essa engrenagem. Desde equipe artística, equipe técnica, produção, divulgação, as marcas que patrocinam, equipe pessoal dos artistas, até produção local em cada cidade, enfim…é muita gente invisível envolvida direta e indiretamente, é muito trabalho gerado.

Também é curioso acompanhar os perrengues, que mesmo no auge de suas carreiras, tiveram que passar. A escolha da música de trabalho imposta por um executivo de gravadora; o stress no Rock In Rio quando o N’Sync, atração principal da noite, impôs restrições de palco e passagem de som fazendo a equipe criativa do show literalmente “ter que rebolar” pra simular o espaço cênico em um galpão para os artistas passarem o show de madrugada; na apresentação de Nova York não conseguiram visto para a equipe técnica entrar no País e tiveram que fazer o show com rodies e técnicos que nunca tinham visto na vida (quem é artista sabe da importância desses profissionais na hora da apresentação).

Enfim, essas e outras histórias estão nos sete episódios que ajudam entender melhor sobre esse mercado tão glamourizado, mistificado e pouco compreendido, onde a arte é vista como supérflua e artistas como aproveitadores de leis de incentivo cultural. Não dá pra não pensar em tudo isso no Brasil de 2020!

Eu sou a Adriana Balsanelli – Assessora de imprensa especializada em cultura