Grupo XIX – 19 anos em 19 dias

Grupo XIX de Teatro mergulha em sua trajetória para exibir e refletir sobre espetáculos do seu repertório em mostra on-line

Link para fotos – https://bit.ly/GrupoXIX

Uma imersão pelo universo criativo e histórico para ressignificar seus próprios contextos originais de criação é o que promete o Grupo XIX de Teatro com a mostra XIX: 19 anos em 19 dias, que acontece de 16 de outubro a 5 de novembro, em transmissão pelo Zoom. Encerrando a programação, no dia 5 de novembro, acontece o evento especial 19 anos em 19 horas, onde será possível assistir os espetáculos exibidos em sequência.

O premiado grupo paulistano formado pelos atores-criadores Janaina Leite, Juliana Sanches, Luiz Fernando Marques, Ronaldo Serruya, Rodolfo Amorim e Paulo Celestino, mantém residência e pesquisa contínua dentro da Vila Operária Maria Zélia, Zona Leste da capital paulista. A mostra integra uma série de atividades que estavam previstas para acontecer no ano passado para celebrar os 19 anos de trajetória da companhia. Com a pandemia, o projeto teve que ser adiado e foi reformulado para o formato digital, ocorrendo de maneira inteiramente remota, com transmissão pelo Zoom.

Na mostra, o público poderá ver ou rever oito espetáculos do grupo que, em muitos momentos, direcionou sua pesquisa para a preservação e o resgate da memória. São eles: Hysteria, Hygiene, Arrufos, Marcha Para Zenturo (em parceria com o Grupo Espanca), Nada Aconteceu, Tudo Acontece e Tudo Está Acontecendo, Estrada do Sul (em parceria com o Teatro Dell’Argine), Teorema 21 e o infantil Hoje O Escuro Vai Atrasar Para Que Possamos Conversar.

A cada dia será exibido uma peça, seguido de algum material inédito como um minidocumentário sobre o processo de criação ou uma conversa com os criadores do espetáculo. Para cada montagem haverá um convidado especial, que tenha visto o espetáculo no ano de sua estreia e o reveja agora, provocando um debate com a plateia acerca dos novos contornos que a encenação ganha no contexto atual. O professor e crítico teatral Wellington Duarte, assistirá todos os trabalhos e, ao final, produzirá um texto colocando as obras em perspectiva a fim de refletir sobre que história que se conta nesses 19 anos de produção do coletivo. A programação completa está abaixo.

As gravações são registros de temporadas e turnês, exceto Nada Aconteceu, Tudo Acontece e Tudo Está Acontecendo e Estrada do Sul que serão analisados como uma “desmontagem”, um processo de reaproximação do material de arquivo revisitando a obra a partir do momento atual.  

A ideia de revisitar o repertório – levando-se em conta questões urgentes como a representatividade em cena, o racismo, a transfobia, o feminismo decolonial, entre outas -, é um chamado para uma inércia confortável que pautou por décadas o teatro. O diretor Luiz Fernando Marques destaca que “é uma chance única, talvez a última, de ver o que significa essa produção em perspectiva, o que dizem essas peças sobre nosso tempo, o que dizem também sobre o próprio teatro e as questões políticas que o atravessam e modificam, inclusive, em seu pensamento sobre estética. É fundamental que nos mostremos capazes de pensar criticamente a história e a nossa própria trajetória.”

Os espetáculos da programação

Hysteria foi a primeira peça montada pelo grupo e estreou em 2001, em criação coletiva com direção de Luiz Fernando Marques. Ganhou 5 prêmios, incluindo o de revelação teatral pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), além de ter sido indicada para o Prêmio Shell de Teatro.

A história de passa no final do século 19, nas dependências de um hospício feminino. Cinco personagens internadas como histéricas revelam seus desvios e contradições – reflexos diretos de uma sociedade em transição, na qual os valores burgueses tentavam adequar a mulher a um novo pacto social. Cenicamente, abdica-se do palco e dos recursos de sonoplastia e iluminação, optando-se por um espaço não convencional, onde a plateia masculina é separada da feminina que é convidada a interagir com as atrizes. Esta interação, aliada a textos previamente elaborados, gera uma dramaturgia híbrida e única a cada apresentação.

Hygiene estreou em 2005, encenada à luz do dia, nos prédios históricos da Vila Operária Maria Zélia. Com criação coletiva e direção de Luiz Fernando Marques, é baseada em uma pesquisa sobre o processo de higienização urbana no Brasil do final do século 19, onde um grande contingente de culturas e ideias dividem o mesmo teto – o cortiço. Desse caldeirão de misturas surgem os embriões de importantes manifestações de nossa identidade, assim como as desigualdades sociais que marcam profundamente os nossos dilemas atuais.

Por esta peça o grupo foi indicado ao prêmio Shell de Teatro e ao Prêmio Bravo! Prime de Cultura como um dos três melhores espetáculos do ano e foi premiado como melhor espetáculo no Prêmio Qualidade Brasil 2005 – São Paulo.

Arrufos, de 2007, criação coletiva com direção de Luiz Fernando Marques, é resultado de pesquisa em torno da história do amor privado no Brasil, o amor burguês, socialmente aceito, e seus desdobramentos até os dias atuais. O espetáculo propõe, junto com a plateia, uma reflexão sobre o desejo de amar e ser amado. Arrufo significa briga sem importância entre pessoas que se amam.

Toda a iluminação vem de 50 abajures que o espectador apaga no início do espetáculo e, aos poucos, voltam a ser acesos pelos atores. A direção de arte de Renato Bolelli Rebouças (vencedor do Prêmio Shell em 2008 por este espetáculo), acomoda o público em arquibancadas formando uma espécie de “parede de alcova”. Sentados em almofadas, a plateia é convidada a sentar em dupla, mesmo quando não o são promovendo assim o encontro.

Marcha para Zenturo é uma parceria artística entre o Grupo XIX e o Espanca!, de Belo Horizonte (MG). Com texto de Grace Passô e direção de Luiz Fernando Marques, os dois grupos se uniram para a concepção de um trabalho onde o exercício da troca, o olhar sobre o outro, a atração do desconhecido, se revelam como força não só para a realização de um projeto de arte, mas sobretudo para a possibilidade de pensar o homem e as relações que ele estabelece na diferença e na igualdade.

O espetáculo traz uma reflexão sobre o processo vertiginoso do tempo. A história se passa no reveillón de 2.441. Enquanto uma multidão se manifesta nas ruas gritando por algo que não se sabe o que é, uma turma de amigos se reencontra para celebrar o ano novo. Este encontro detona lembranças e reflexões sobre como o tempo transcorreu em suas vidas. O espetáculo estreou em 2010 e foi indicado ao prêmio Usiminas/Sinparc-MG nas categorias texto, luz, cenário e figurino.

Nada Aconteceu, Tudo Acontece, Tudo Está Acontecendo estreou no centenário de Nelson Rodrigues, em 2013, quando o XIX criou uma livre versão para Vestido de Noiva, em parceria com o dramaturgo Alexandre Dal Farra. Na releitura dirigida por Luiz Fernando Marques e Janaina Leite, o público acompanha a personagem Alaíde nas duas horas que precedem a sua cerimônia de casamento com Pedro.  A sede do grupo, na Vila Maria Zélia, foi transformada em um salão de festas para receber o casamento. 

Inseridos dramaturgicamente como convidados da cerimônia, os espectadores assistem às cenas sentados à mesa da festa, tomando vinho e petiscando salgadinhos. Num surto onde realidade e ficção se confundem, vemos emergir um universo de recalques que, aponta, na verdade, para uma rigidez e um arcaísmo que é a imagem do próprio Brasil.

Estrada do Sul, também de 2013 é uma parceria com o Teatro Dell’Argine, da Itália, a partir da obra A Autoestrada do Sul, de Julio Cortázar (1914-1984), com direção e dramaturgia de Pietro Floridia. Em uma estrada que leva a uma grande cidade, em um retorno de um domingo de férias, por circunstâncias misteriosas que ninguém nunca conseguirá esclarecer, se cria um engarrafamento.

O espetáculo acontece na rua com 23 atores ocupando 18 carros. O público assiste e participa do espetáculo dividindo os carros com os personagens presos nesse engarrafamento. A peça começa dentro dos carros, onde os atores, contam suas histórias, comentam a situação, interagem com o público-passageiro. Algumas cenas acontecem entre os carros, estabelecendo relações entre os passageiros para decidir o que fazer diante de problemas como alimentação, o sono, os atritos, as possíveis alternativas na expectativa de sair daquele engarrafamento. Cada sessão é única e incomparável para cada espectador.

Teorema 21 tem texto do dramaturgo Alexandre Dal Farra, livremente inspirado na obra Teorema, do cineasta italiano Pier Paolo Pasolini (1922-1975). Com direção de Luiz Fernando Marques e Janaina Leite, a peça gira em torno de uma família que retorna ao seu antigo lar. Ao buscar novas possibilidades de existência nesse ambiente antigo, recriam as suas relações e experimentam novas formas de contato. Tudo parece estável. Mais do que isso, estagnado. A chegada de um estrangeiro ameaça transformar a estrutura dessa família.

A montagem é encenada ao entardecer na antiga escola de meninas, hoje desativada, localizada dentro da Vila Maria Zélia, um lugar quase sem teto, com as paredes em ruinas, em meio aos escombros. Ao entrar no espaço e ocupar as cadeiras giratórias dispostas aleatoriamente, o público é inserido na sala de estar e pode girar as cadeiras para escolher o melhor ângulo para cada cena.

Hoje O Escuro Vai Atrasar Para Que Possamos Conversar é o primeiro espetáculo infantil do XIX. Com dramaturgia de Ronaldo Serruya e direção de Luiz Fernando Marques e Rodolfo Amorim, o processo criativo para montagem foi inspirado pelo romance De Repente, Nas Profundezas do Bosque, do escritor israelense Amós Oz (1939-2018). A encenação apresenta ao público infantil temas delicados como os efeitos da discriminação e do tratamento indesejado, o bullying e a consciência de que o “outro” também tem medos, fragilidades e inseguranças.

O espetáculo estreou em 2018, no Centro Cultural Banco do Brasil – São Paulo, como uma experiência itinerante, numa relação direta com o espaço arquitetônico. A plateia era convidada para um passeio por dentro do prédio histórico, saindo da sala do teatro, passando pelo palco, pelos urdimentos, pelas coxias. Nessa experiência teatral imersiva, o cenário se transformou numa instalação inspirada no trabalho da artista mineira Lygia Clark, usando estímulos com o escuro, claro, barulhos e diferentes texturas para provocar os sentidos da plateia.

Um olhar sobre a memória

Com a pesquisa sobre habitação e moradia no Brasil o grupo chegou à Vila Operária Maria Zélia, em 2001. Da primeira residência até hoje, foram muitas ações, numa troca permanente com a comunidade e a inserção da Vila Maria Zélia no mapa cultural da cidade de são Paulo.

A criação colaborativa, o uso de espaços não-convencionais e a relação próxima ao público são marcas dessa trajetória. A “Vila” é hoje um espaço de pesquisa, difusão e formação que abriga projetos como os Núcleos de Pesquisa que acolhem anualmente cerca de cem artistas, além de diversos espetáculos e oficinas.

Ao longo de sua trajetória acumula entre prêmios e indicações mais de 15 menções nos principais prêmios do país: Shell, APCA, Cooperativa Paulista de Teatro, Bravo!, Qualidade Brasil entre outros. Em 2017, ganhou o Prêmio Shell na categoria Inovação pela manutenção da sede na Vila Maria Zélia, na Zona Leste, e parceria com artistas de áreas diversas.

O grupo já percorreu no exterior 21 cidades em 5 países (Europa: Portugal, Inglaterra, Itália e França; África: Cabo Verde). Hysteria fez turnê por 8 cidades francesas por ocasião do L’année du Brésil en France. Em junho de 2008 a peça cumpriu temporada no renomado Barbican Center de Londres na Inglaterra e, em 2009 o grupo foi convidado pelo Contact de Manchester para dirigir o espetáculo de formatura da instituição.

Em 2012, o XIX participou da mostra São Palco, idealizada pelo O Teatrão, em Coimbra, Portugal e do Festival La scenna dell’incontro, em Bologna, Itália em parceria com o ITC e o Teatro dell’Arginne. Em 2013 o grupo participou do Ano do Brasil em Portugal por 5 cidades.

Serviço:

Grupo XIX de Teatro – 19 anos em 19 dias

Dia 16 de outubro – Sábado

16h – Hysteria + conversa com a crítica teatral Daniele Avila Small (Questão de Crítica)

19h – Hygiene + depoimentos sobre a criação

21h – Arrufos + documentário: O Filme de Amor da Minha Vida (direção Paulo Celestino)

Dia 17 de outubro – Domingo

16h – Hygiene+ conversa com o ator e diretor Eugênio Lima

19h – Hysteria + depoimentos sobre a criação

21h – Arrufos + depoimentos sobre a criação

Dia 18 de outubro – Segunda-feira

19h – Hysteria + documentário Hysteria (direção Ava Rocha e Evaldo Mocarzel)

Dia 19 de outubro, terça-feira

19h – Arrufos + conversa com a jornalista Maria Luiza Barsanelli

Dia 20 de outubro, quarta-feira

19h – Hygiene + documentário Hygiene no Acre (direção Evaldo Mocarzel) 

Dia 21 outubro, quinta-feira

19h – desmontagem Marcha para Zenturo + depoimentos sobre a criação com participação do Grupo XIX e Grupo Espanca!

Dia 22 de outubro, sexta-feira

19h – Marcha para Zenturo + minidoc sobre a peça + conversa com Carolina Braga (Cultradoria)

Dia 23 de outubro, sábado

16h – Hysteria + minidoc sobre a peça

19h – Hygiene + minidoc sobre a peça

21h – Arrufos + minidoc sobre a peça

Dia 24 de outubro, domingo

19h – minidoc sobre a peça Nada Aconteceu, Tudo Acontece, Tudo Está Acontecendo + conversa com crítica teatral e curadora Dodi Leal

Dia 25 de outubro, segunda-feira

19h – minidoc sobre a peça Nada Aconteceu, Tudo Acontece, Tudo Está Acontecendo + depoimentos sobre a criação

Dia 26 de outubro, terça-feira

19h – minidoc Estrada do Sul + conversa com cineasta Tata Amaral

Dia 27 de outubro, quarta-feira

21h – minidoc Estrada do Sul  + depoimentos sobre a criação

Dia 28 de outubro, quinta-feira

16h – Hoje O Escuro Vai Atrasar Para Que Possamos Conversar + depoimentos sobre a criação

Dia 29 de outubro, sexta-feira

16h – Hoje O Escuro Vai Atrasar Para Que Possamos Conversar + minidoc sobre a peça

Dia 30 de outubro, sábado

16h – Hoje O Escuro Vai Atrasar Para Que Possamos Conversar + depoimentos sobre a criação

19h – Teorema 21 + conversa com público

Dia 31 de outubro, domingo

16h – Hoje O Escuro Vai Atrasar Para Que Possamos Conversar + conversa com Valmir Santos (Teatro Jornal)

19h – Teorema 21 + vídeo de conversa com público

Dia 1º de novembro, segunda-feira

21h – Teorema 21 + minidoc

Dia 2 de novembro, terça-feira

21h – Teorema 21 + conversa com cineasta Evaldo Mocarzel

Dia 5 de novembro, sexta-feira

19 anos em 19 horas

19h – conversa com Wellington Andrade + exibição das peças da mostra – on demand

Classificação: Livre

Ingressos gratuitos.

Transmissão pelo Zoom.

Reservas em sympla.com.br/grupoxixdeteatro

Grupo XIX nas redes sociais: Instagram @grupoxixdeteatro / facebook.com/grupoxix

Informações para imprensa:

Adriana Balsanelli

Fone: 11 99245 4138

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