Joana Garfunkel
Joana Garfunkel – Curruíra
Distribuição Tratore
Curruíra é o primeiro CD de Joana Garfunkel. Com produção Swami Jr., o registro reverencia o passado e aponta para o futuro questionando as origens da canção brasileira. A paulistana Joana chega madura ao mercado fonográfico depois de dez anos dividindo o palco e os microfones em apresentações lítero-musicais ao lado do pai, Jean Garfunkel, no projeto Canto Livro. Gravado em São Paulo entre outubro de 2015 e janeiro de 2016, o projeto gráfico é assinado por Teresa Maita e o CD tem distribuição pela Tratore.
Swami Jr., Sylvinho Mazzucca Jr, Sergio Reze, Leo Mendes, Pepe Cisneros e Thadeu Romano tocam na maioria das faixas e gravaram tocando juntos, ao vivo, em estúdio. O CD tem a participação de Emiliano Castro, Jean Grafunkel, Ronen Altman, Sizão Machado, Pichu Borelli, Pratinha Saraiva e Paulo Garfunkel (recitando um poema autoral).
Não à toa, os versos (de autoria de Leo Maslíah em versão de Carlos Sandroni) “Olham para o céu esses poetas, poetas, poetas / Como se fossem lunetas, lunetas, lunáticas / Lançadas ao espaço e ao mundo inteiro, inteiro, inteiro…” – já cantados por Milton Nascimento no CD Tambores de Minas – são da faixa que abre o disco. Joana descobriu na paixão pela literatura o desejo de ser cantora. “Sou como dois rios que vão para mar: a música e a literatura”, se define.
As 18 faixas, todas com arranjos de Swami Jr., carregam uma metalinguagem da poesia e da canção que constrói as paisagens sonoras da música brasileira. Quatro poemas recheiam o CD e evidenciam o cuidado com a palavra. Dividido em três blocos: o sertão, o litoral e as origens ancestrais, o repertório traz uma mensagem política em uma perspectiva do Brasil pulsante nas cores e na riqueza cultural.
Um repertório telúrico, fonte de inspiração e das influências da cantora. “A literatura possibilita essa transcendência, permite viajar para o Brasil inteiro. Eu conheci o sertão pelas obras de Guimarães Rosa, o meu país por Jorge Amado e tantos outros autores e lugares. É uma experiência mítica. Um poder que nos transporta no tempo e no espaço. Quando eu canto uma música, eu conto uma história”, profere Joana.
Faixa a faixa
- Guardanapos de Papel (Leo Maslíah /versão: Carlos Sandroni)
Letra do poeta uruguaio com versão de Carlos Sandroni apresenta Joana e contextualiza a metalinguagem do CD. Os arranjos melódicos criam uma ambiência sonora que remete ao universo literário do disco.
- Curruíra (Beth Amin/ Jean Garfunkel)
Música que dá nome ao CD é uma canção solar e funciona como um alter ego da cantora com sua alegria de viver e cantar. Tem arranjo com ares andinos e destaque para a participação de Ricardo Herz nos violinos e Léo Mendes no ukulele.
- A Lua Girou (Domínio Público – adaptação de Milton Nascimento)
Uma viagem para as Minas Gerais. Sérgio Reze tece os congos melódicos e um coro de vozes masculinas com Jean Garfunkel, Paulo Garfunkel, Emiliano Castro e Swami Jr. abrem um dueto em sua tessitura ao entrelaçar-se com a voz doce da cantora.
- CY (Tavinho Moura / Fernando Brant)
Segue o ritmo mineiro com versos que reverenciam as raízes indígenas e a mãe Guarani. Canção pouco conhecida e gravada traz a participação de Thadeu Romano no acordeon.
- Assentamento (Chico Buarque)
Música de Chico Buarque iniciada com versos de Guimarães Rosa fala sobre a saudade e convida o ouvinte a olhar para o interior e refletir a importância dos projetos de assentamento rural. Foi gravada originalmente em um compacto que acompanha o livro Terra (1997), do fotógrafo Sebastião Salgado
6. Circuladô de Fulô (Caetano Veloso / Haroldo de Campos)
Texto do poeta Haroldo de Campos musicado por Caetano Veloso segue a proposta literária do CD e leva o ouvinte a contemplar a paisagem sertaneja.
- Partida (Joana Garfunkel)
Poema de Joana Grafunkel escrito na adolescência. Fala as lembranças e começa a viagem, o egresso. Dialoga com a canção seguinte.
- Parte del Aire (Fito Paez) / Cantiga de Acordar (Edu Lobo/Chico Buarque)
Conhecida na voz de Mercedes Sosa é uma canção sobre a liberdade. Reflete as influências musicais de Joana olhando para os nossos vizinhos, os “Hermanos”. Outro poema autoral divide a canção com um recorte incidental de Cantiga de Acordar de Edu Lobo e Chico Buarque que dialoga com esse encontro de culturas.
- Fruta Boa (Milton Nascimento/Fernando Brant)
Única música sobre o amor presente no CD. Os inspirados arranjos de Swami Jr. descolam da gravação de Nana Caymmi e César Camargo Mariano, do histórico Voz & Suor, de 1983. Um violão sentimental embalado com o piano de Pepe Cisneros enobrece a tristeza e a interpretação emocional de Joana.
- Maré (Natan Marques / Flora Figueiredo)
Música inédita com letra da poeta Flora Figueiredo remete ao universo de Jorge Amado. Swami Jr. divide os arranjos com Natan Marques. A canção ajusta-se com a faixa seguinte.
- Outra Praia (Swami Jr. / Chico César)
Joana pediu para gravar a música título do CD de Swami Jr. lançado em 2009. Com novos arranjos, a letra nostálgica de Chico César remete ao outro continente, a Àfrica e nossas origens, na visão da cantora.
- Sodade (Amandio Cabral / Louis Morais)
Um dos maiores sucessos da intérprete cabo-verdiana Cesária Évora traduz a saudade da identidade do brasileiro e das referências africanas. Joana escreveu o poema Saudade, que entra dentro da canção, pontuando com o bandolim de Ronen Altman.
- Água d’água (Jean Garfunkel / Paulo Garfunkel)
Introduz um bloco de canções do universo sagrado. A letra pede as bênçãos de Oxum e Xangô elevando a espiritualidade ancestral.
- Versos pra Ògún – Paulo Garfunkel (poema)
Poema narrado por Paulo Garfunkel introduz a canção seguinte.
- Medalha de São Jorge (Moacyr Luz/Aldir Blanc)
Música em homenagem a São Jorge que Joana ouvia desde a adolescência e exprime seu momento atual. Acompanhada somente pelo baixo de Sizão Machado e o violão de 7 cordas de Swami Jr.
- Cachimbo na Noite (Emiliano Castro / Joana Garfunkel)
Joana fez a letra a partir da versão instrumental de Emiliano Castro chamada Preto Véio. Canção de cunho otimista conclama pela coragem de lutar e realizar os sonhos. Os vocais na gravação são divididos com o autor.
- Réquiem – Ruy Proença (poema)
Último poema do disco tem mensagem que vislumbra um novo renascimento e a esperança de que dias melhores virão.
- Cruzeiro do Sul (Jean Garfunkel / Paulo Garfunkel)
Fecha o disco mais uma composição da dupla Jean e Paulo Garnfunkel. Um resgate do repertório do Canto Livro, em que Joana dividiu os vocais com o pai. Participam da gravação os músicos que acompanham a dupla nos shows, Pichu Borelli (piano), Pratinha Saraiva (flauta) e Sizão Machado (baixo).
Adriana Balsanelli (julho de 2016)