O teatro abraça a tecnologia e une linguagens artísticas na pandemia
Esperava que, em agosto, eu pudesse contar algo sobre a volta do teatro. Afinal, o governo de São Paulo antecipou a autorização para a reabertura de teatros, cinemas, salas de espetáculo e realização de eventos culturais para regiões que estejam na fase amarela do plano de flexibilização da quarentena no estado, caso da cidade de São Paulo atualmente.
Seguindo o plano de retomada, a previsão é que os teatros voltem a ter uma rotina presencial entre setembro e outubro. Mas, como no jogo de cena, nem tudo é o que parece ser. O desejo que se percebe no setor é de retomada, mas a classe artística ainda pondera o crescente índice de infectados.
É preciso voltar ao trabalho, por questões financeiras, que todos já sabem, mas é preciso, também, avaliar o impacto ao expor público e trabalhadores ao risco, contribuindo para se alastrar a pandemia. Cautela é a palavra da vez!
Esse movimento de prudência não é exclusivo de São Paulo. Num artigo publicado no The New York Times em junho, a Broadway anunciou que não voltará neste ano. As regras de distanciamento social com a redução do número de lugares tornam inviável financeiramente os negócios. Caso pior é do Shakespere’s Globe, de Londres, que corre o risco de não abrir mais as portas, mesmo após a pandemia. Infelizmente, para muitos espaços de pequeno porte, o destino pode ser o mesmo do teatro construído originalmente pela companhia a que Shakespeare pertencia. Já na Alemanha, o Teatro Berlinder Ensemble, fundado por Bertolt Brechet, foi um dos primeiros a divulgar a nova configuração de assentos com previsão de reabertura em setembro (país que soube lidar com a pandemia de outra forma).
Mas, se o mercado que depende de aglomeração pra existir não pode aglomerar e as medidas de distanciamento social e readequação dos espaços não permitem que um espetáculo seja economicamente possível, qual a saída?
Após 5 meses sem atividades no setor que gera 3,9% do PIB do estado, com 1,5 milhão de postos de trabalho, com a maioria dos trabalhadores impossibilitados de exercer seu ofício e sem acesso ao auxílio emergencial do governo, a retomada se vislumbra de outra maneira. Muitos profissionais viram no espaço digital uma alternativa para sobrevivência.
As telas do computador viraram palco e as salas dos artistas passaram a ser nos novos cenários para representação dos personagens. Em meio a polêmicas dentro da própria categoria, se é ou não teatro, se vai ter público ou se é economicamente viável, as primeiras iniciativas surgiram.
Algumas produções disponibilizaram espetáculos gravados, outras produziram peças durante a pandemia e teve quem inovou em espetáculos digitais interativos com misturas de linguagens.
A Secretaria Municipal de Cultura preparou o Festival Palco Presente com a proposta de fazer uma programação virtual a partir do teatro. Muitas companhias, artistas independentes e teatros privados vão pelo mesmo caminho com apresentação presencial em transmissão via streaming.
O que faz o teatro ser tão especial é o fato ser ligado à necessidade de um contato direto com o público. A emoção da plateia, a conexão estabelecida naquele instante torna cada apresentação um evento artístico único.
Como a criatividade é a ferramenta que move os artistas, profetizo uma nova forma de arte que vai ter efeito no teatro pós pandemia. A arte segue sua função se reinventando e aperfeiçoando a forma de se comunicar com o público.
Confluência de linguagens, híbrido de presencial e digital, interação, experimentos artísticos-sociais explorando os limites entre as linguagens artísticas e aliando o uso de plataformas como Zoom, YouTube, Instagram, Facebook e até Spotify. A transmissão digital estabelece agora uma nova lógica tornando-nos testemunhas de criações exclusivas pensadas para esse momento histórico em tempos de isolamento.
E você, vai viver essa experiência?
Eu sou a Adriana Balsanelli – Assessora de imprensa especializada em cultura