A Fuzarca dos Descalços
Coletivo dos Anjos estreia a peça A Fuzarca dos Descalços no Sesc Belenzinho no dia 11 de fevereiro
Com idealização de Eder dos Anjos, direção de Aysha Nascimento e dramaturgia de Victor Nóvoa, espetáculo é livremente inspirado em ‘Esperando Godot’ e cria reflexões sobre as contradições sociais e raciais brasileiras
Tendo como ponto de partida a premissa proposta pelo dramaturgo irlandês Samuel Beckett em Esperando Godot, o Coletivo dos Anjos cria uma série de reflexões sobre as lutas das pessoas pretas e as contradições sociais e raciais brasileiras em A Fuzarca dos Descalços. O espetáculo estreia no Sesc Belenzinho, no dia 11 de fevereiro, e segue até 6 de março, com apresentações às sextas e aos sábados, às 21h30; e aos domingos, às 18h30.
O trabalho foi idealizado por Eder dos Anjos, que está em cena ao lado de Salloma Salomão e dos músicos Ito Alves e Juh Vieira, que tocam ao vivo a trilha sonora em diálogo constante com a dramaturgia, como se a música também fosse narradora da peça.A direção é assinada por Aysha Nascimento, e a dramaturgia, por Victor Nóvoa. O projeto foi selecionado no 24º Cultura Inglesa Festival.
Na trama, Atsu e Baakir estão do outro lado da cerca. Eles não sabem se estão presos ou do lado de fora, apartados de um mundo ao qual não têm nenhum acesso. Ambos são corpos marginalizados que compartilham sonhos, cicatrizes e dores. Mesmo nas situações mais violentas e oníricas, eles permanecem juntos, tentando compreender e romper com tudo aquilo que os segrega da sociedade.
A peça é apenas livremente inspirada na obra de Beckett, já que tem como proposta romper com o pensamento niilista do pós-guerra ocidental, fortemente presente no texto original. Para isso, a nova dramaturgia problematiza essa questão da espera, partindo da premissa de que a população negra não tem esse privilégio de aguardar por algo inalcançável.
“Em Esperando Godot, as duas personagens entregam a salvação de suas vidas a alguém que nunca chega e vão aliviando as dores da existência na convivência entre eles. Na nossa Fuzarca dos Descalços, permanece a potência do convívio como força de existência, mas não há espera, há grande compreensão dos processos históricos e a memória é o chão onde se planta novas pulsões de vida. Há muito o que fazer e continuaremos apostando em uma ação conjunta”, explica o dramaturgo Victor Nóvoa.
Sobre essa questão, a diretora Aysha Nascimento complementa: “A comunidade negra sempre precisou agir ou reagir. Infelizmente, não temos a possibilidade de espera ou de encontrar um lugar pacífico. Estamos sempre no processo de construção da nossa própria humanidade. E, para representar isso, eu bato na tecla de que os atores estejam sempre fazendo e falando algo, praticamente não há silêncio. É uma adaptação não-obediente a Esperando Godot, porque queremos contradizer, contranarrar as narrativas hegemônicas que já estão há muito tempo ditando a nossa desumanidade”.
Ela revela que o grupo procurou deslocar o momento histórico do texto de Beckett. “Discutimos muito essa questão de que Esperando Godot estaria no pós-guerra europeu e para a população negra esse período poderia muito bem corresponder ao período pós-escravidão. O ator Salloma Salomão, que também é historiador e africanista, foi fundamental nesse processo para trazer referências que nos ajudassem a pensar as consequências desse processo para o nosso povo. Ele trouxe, por exemplo, pontos de vistas de Áfricas aos quais não temos muito acesso”, acrescenta a encenadora.
À medida que coloca em cena dois personagens masculinos de idades bem diferentes, Fuzarca dos Descalços também trata da questão da afetividade negra e da importância da polifonia na construção de um novo processo de humanização desses corpos. “A encenação vai trazer o lugar do amor, em que dois homens possam ter um diálogo e uma reflexão sobre o afeto, possam ser afetuosos um com o outro para além da sua sexualidade. E, para falar sobre essa questão da masculinidade negra, uma referência muito importante para mim foi o livro Representação e Raça, da Bell Hooks”, conta Aysha.
Outros temas discutidos pelo espetáculo são as possibilidades de reconstrução dos povos negros, as relações sociais que se estabelecem com a negritude e como as pessoas precisam construir juntas uma nova nação. E, para acentuar esse efeito de empatia e espelhamento no público, os espectadores precisam tirar os sapatos ao entrar na apresentação e ficar descalços, tal como os personagens. E os calçados da plateia também são ressignificados de diversas formas ao longo da montagem.
Sobre o Coletivo dos Anjos
Criado em 2014 na cidade de Jandira, o Coletivo dos Anjos trabalha a partir de duas frentes de pesquisa. A primeira delas busca dar voz a personagens e histórias que, de alguma, forma representam figuras que estão à margem de algo, assim como a própria cidade de Jandira está à margem da capital. A segunda vertente tem como proposta levar à população textos baseados em obras de grandes autores da literatura e dramaturgia clássica universal, trazendo também novas referências vindas de diretores conhecidos do cenário teatral nacional.
A primeira montagem do grupo foi A Gaivota (2014), de Anton Tchekhov. Com direção de Diego Mosckhovich, a encenação usou a voz do personagem Treplev para discutir, através de sua insatisfação com as formas estabelecidas e sua indignação com a espetacularização, o lugar da arte e o ofício do artista. Em seu segundo projeto, intitulado Ser tão seco – rapsódia Graciliana em um ato e uma andança (2015), com direção de Luiz Carlos Laranjeiras, o coletivo se aprofundou na obra Vidas Secas, do grande escritor Graciliano Ramos. A encenação, em formato para a rua, trouxe à tona a história de luta de uma família migrando de um lugar para o outro, buscando sobreviver em meio a um mundo injusto, revelando também histórias de pessoas que vieram de outras cidades para morar em Jandira.
Em 2017, o coletivo realizou seu terceiro espetáculo, Sobre Meninos e Pipas, com direção de Karen Menatti, da Cia do Tijolo. Em cena, quatro atores e dois músicos contam algumas histórias sobre meninos e meninas que questionam os regulamentos, assim como histórias em que a manutenção das regras vigentes é repetida. Através de um suposto mundo imaginado, os atores criaram, a partir do texto Aquele que diz sim, de Bertold Brecht, um espetáculo que convida o público a refletir se é realmente possível subverter alguma regra pré-estabelecida.
Ficha Técnica:
Idealização e concepção geral: Eder dos Anjos. Direção: Aysha Nascimento. Dramaturgia: Victor Nóvoa. Elenco: Eder dos Anjos e Salloma Salomão. Músicos: Ito Alves e Juh Vieira. Direção de arte, cenografia e figurino: Thays do Valle. Iluminação: Danielle Meireles. Assistente de arte e técnica: Cesar Riello e Renan Vinícius. Assessoria de Imprensa: Adriana Balsanelli.
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Permanece obrigatório o uso de máscaras, cobrindo adequadamente boca e nariz.
Apresentação do comprovante de vacina
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Serviço:
A FUZARCA DOS DESCALÇOS
do Coletivo dos Anjos
De 11 de fevereiro a 6 de março de 2022. Sextas e sábados, às 21h30; domingos, às 18h30
Local: Teatro (374 lugares)
Acesso somente com uso de máscara e apresentação do comprovante de vacinação com esquema vacinal completo
Ingressos: R$30 (inteira) e R$15 (meia-entrada/Credencial Sesc)
Venda online em sescsp.org.br/belenzinho. Venda presencial nas bilheterias de todas as unidades da rede Sesc
Recomendação etária: 12 anos
Duração: 60 minutos
Sesc Belenzinho
Endereço: Rua Padre Adelino, 1000.
Belenzinho – São Paulo (SP)
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Valores: Credenciados plenos do Sesc: R$ 5,50 a primeira hora e R$ 2,00 por hora adicional. Não credenciados no Sesc: R$ 12,00 a primeira hora e R$ 3,00 por hora adicional.
Para espetáculos pagos, após as 17h: R$ 7,50 (Credencial Plena do Sesc – trabalhador no comércio de bens, serviços e turismo). R$ 15,00 (não credenciados).
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