Cia Ato Reverso

Cia Ato Reverso transporta As Bruxas de Salém para os dias atuais com novo espetáculo

Com uma trama que caminha pela obra As Bruxas de Salém, de Arthur Miller (1915–2005), e pela realidade incendiária diante da polarização política que divide o país, a Cia Ato Reverso estreia Abigail Williams, ou De Onde Surge o Ódio? no dia 25 de março, sábado, às 20h no Tendal da Lapa. A direção é de Nathália Bonilha com dramaturgia de Vinicius Garcia Pires. A temporada vai até 16 de abril com sessões gratuitas sempre sábados, às 20h, e domingos, às 19h.

A peça, livremente inspirada na obra de Miller, conta a história de Abigail Williams, a adolescente que vive em um pequeno povoado protestante, onde as rígidas regras de convivência a impossibilitam de viver um amor e desenvolver-se plenamente como ser humano. A trama apresenta os caminhos contraditórios e complexos que levam Abigail ao poder. A jovem, oprimida por um fundamentalismo moral e religioso cego, consegue rachar o sistema e, amparada pelo fanatismo local, lidera um expurgo coletivo de caça às bruxas instaurada na cidade S-S, uma mistura de Salém e São Paulo.

O local transita entre a tradição e a modernidade, de tal modo que as vozes dos personagens de S-S partem das configurações rígidas da moral teocêntrica, como em Salém, mas se misturam às vozes ecoadas das mídias sociais e dos meios de comunicação de São Paulo, espaços em que nos últimos tempos observamos um aflorar de discursos de ódio.

“O espetáculo almeja questionar junto aos espectadores: De onde nasce o ódio? Como se propaga uma situação de ódio coletivizado? Quais são as bruxas que perseguimos hoje, com os discursos de ódio disseminados e pulverizados em nosso cotidiano? Como a sociedade em que vivemos permite e promove o extermínio de parte de nós mesmos? Por ser a principal líder das acusações, Abigail trilha um caminho de ascensão social. Ela poderia revolucionar a cidade, mas pelo contrário, Abigail adere à estrutura para fins pessoais, disparando uma série de acusações e condenações públicas. De figura excluída e estigmatizada, ela se torna a figura central das acusações, construindo uma voz que é praticamente inquestionável dentro da cidade, entendemos que problematizar essa reviravolta é da maior importância” fala a diretora e atriz Nathália Bonilha.

A encenação traz como elementos, a música ao vivo conduzida por cello, percussão e violão, o uso de projeções e um cenário que se transmuta em múltiplas configurações. As cenas acontecem em diversos ambientes, variando desde uma floresta até uma igreja evangélica, traçando um paralelo com o fundamentalismo do povoado protestante do século XVI. O processo da cia envolveu uma etapa de pesquisa com o antropólogo Ricardo Mariano, que investiga a expansão das igrejas evangélicas desde os anos 1980, em especial as neopentecostais, uma vez que o espetáculo intenciona problematizar a existência de discursos de ódio que se propagam atualmente por meio de discursos religiosos, políticos e virtuais.

“A montagem se faz como uma obra híbrida diante da transposição da peça As Bruxas de Salém, do Miller, para o presente e da consideração dos discursos de ódio proliferados nas mídias, especialmente redes sociais, atualmente. Toda a atmosfera de polarização instalada nos últimos tempos contribuiu para que se evidenciasse a identificação do que vem a ser a perseguição das bruxas em nosso tempo, e de como a prática do ódio continua operando na mesma lógica de eliminação do outro”, conta o ator Paulo Salvetti.

Tendo em vista o interesse pelo ponto de vista múltiplo, todas as atrizes interpretam a personagem Abigail, recurso que promove uma coralidade na composição variada da protagonista. Essa é uma característica da Cia Ato Reverso que já estava na montagem anterior Maria Inês ou o Que Você Mata pra Sobreviver?, que também permeava a questão da barbárie ao falar de violência doméstica e sobrevivência. Outro atributo levantado é o lugar do feminino, ao ser questionada a perspectiva da personagem Abigail Williams criada por Miller. Neste espetáculo, a trama é disparada pelas condições contraditórias da trajetória pessoal e social de Abigail Williams, mais do que pelo caso amoroso apresentado na obra de Miller – elemento responsável por boa parte do teor dramático da obra em questão. Elementos documentais também se somam à narrativa, numa intenção de friccionar os limites entre real e ficcional no espetáculo.

O texto A boçalidade do Mal, da jornalista Eliane Brum, foi um dos propulsores para a construção do clima que predomina em cena. “Os bárbaros não eram mais os outros, os de longe. Desta vez, eram os de perto, bem de perto, que queriam não apenas vencer, mas destruir o diferente ou o divergente, eu ou você. O bárbaro era um igual, o que torna tudo mais complicado. ” (Trecho do texto de Eliane Brum retirado do link https://goo.gl/63vsWb).

FICHA TÉCNICA:

Direção: Nathália Bonilha. Dramaturgia: Vinicius Garcia Pires. Elenco: Bárbara Lins, Daniel Aureliano, Luana Gregory, Lucas Oranmian, Nathália Bonilha e Paulo Salvetti. Direção musical: Isadora Titto. Músicos em cena: Eduardo Florence e Ana Clara Travassos. Orientação coreográfica:Rafael Sertori. Iluminação: Robson Lima. Cenário e Figurino: Clau Carmo. Cenotécnico: Alício Silva. Costureira: Iracema Belarmina. Alfaite: Di Raffaele. Ilustrador: Sérgio Segal. Designer gráfico: Alice Jardim. Criação de Vídeo: Igor Angelo. Produção: Ariane Cuminale e Paulo Salvetti.

SERVIÇO:

Centro Cultural Tendal da Lapa: Rua Constança, 72 – Água Branca – São Paulo. Telefone: 3862-1837. Temporada: De 25 de março a 16 de abril com sessões sempre sábados, às 20h, e domingos, às 19h. Classificação: 14. Capacidade: 60 lugares. Preço: gratuito. Duração: 2h10.

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