Companhia Setor de Áreas Isoladas
Companhia de Brasília traz espetáculos gratuitos a São Paulo com discussões sobre a morte do amor e a beleza da resistência
Setor de Áreas Isoladas se apresenta em junho e julho com peças baseadas em clássico do russo Anton Tchekhov e texto contemporâneo do francês Pascal Rambert.
A trupe brasiliense Companhia Setor de Áreas Isoladas traz dois espetáculos gratuitos a São Paulo entre junho e julho: a estreia de A Moscou! Um palimpsesto e a reestreia de Encerramento do Amor. A primeira fica em cartaz na Galeria Dandi dias 3, 4 e 5 de junho de 2022. E a segunda também tem curta temporada, dias 7, 8 e 9 de julho de 2022 na Oficina Cultural Oswald de Andrade. Sessões com acessibilidade em Libras às sextas-feiras.
Com dramaturgia e direção de Ada Luana, A Moscou! Um palimpsesto é um retrato questionador sobre a busca da felicidade. Ela parte do clássico As Três Irmãs, do dramaturgo russo Anton Tchekhov, que usava o momento de transformação da Rússia czarista, no começo de 1900, para falar do desejo humano de realização pessoal e a dificuldade de resistir. A diretora está em cena ao lado de Ana Paula Braga, Camila Meskell, Filipe Togawa, Kalley Seraine e Taís Felippe.
A ideia de montar esta adaptação nasceu de um momento marcante e doloroso da diretora. “Estava vivendo um momento pessoal muito difícil, lidando com o fim de um relacionamento, afastada da prática, pensando o teatro apenas na academia e com muita vontade de voltar para o palco. Foi um marco profissional de peitar esse lugar que ainda é tão dominado pelos homens, na direção teatral e na dramaturgia. E foi muito bonito porque foi um processo de empoderamento por meio de um projeto artístico”, conta Ada.
A diretora faz uma releitura da peça clássica à luz dos problemas políticos e sociais do presente, reformulando as perguntas deixadas por Tchekhov em seu texto. Ela bebeu de muitas fontes para criar sua versão do espetáculo. Além da influência de outras obras de Tchekhov, também há ecos do autor estadunidense Henry David Thoreau e do dramaturgo francês Joël Pommerat, além de improvisos das atrizes e dos músicos. A própria palavra palimpsesto surgiu de uma leitura de Pommerat. “Eram os pergaminhos usados em práticas litúrgicas onde se raspava o texto para se poder reutilizar o papiro. Para mim, nós, escritores, sempre escrevemos por cima de rascunhos e textos que já existiram”, explica a diretora.
A música tem um papel importante na composição do espetáculo. Um pianista e um violinista executam a trilha sonora ao vivo, composta especialmente para a peça pelo diretor musical Filipe Togawa. Além de ter feito parte da origem da composição do espetáculo, a música é um elemento importante da própria peça, uma vez que os personagens tocam e têm relação afetiva com os instrumentos.
A proposta cênica também é ousada. À medida que a peça é encenada, é montado também o cenário. Ele começa com objetos cênicos e figurinos que fazem alusão a um ensaio e vai sendo transformado, ao vivo, nos cenários da história. “Quero que o público veja como a gente cria a cena e quebra a ilusão, veja a gente construindo esses mundos e se permitam estar na ficção também. Temos uma proposta de quebrar a quarta parede, entre o personagem e as atrizes narradoras. Fazemos o tempo inteiro esse jogo de quebra e volta”, conta Ada.
Para a diretora, uma das grandes lições da peça é a beleza da resiliência dessas três mulheres fortes, que suportam toda a sorte de opressão e ruína do mundo como conheciam. A arte tem uma relação muito íntima com a vida de três das mulheres que não só encenam a peça, mas também trabalharam para mantê-la de pé. Foi no fazer deste espetáculo que a Companhia Setor de Áreas Isoladas voltou à vida, diz a diretora.
A companhia havia decidido encerrar as atividades em 2012 e feito um funeral simbólico para fechar o ciclo. Mas, quando A Moscoucomeçou a ser pensada por Ada Luana, Camila Meskell e Taís Felippe, todos foram tocados pela peça e decidiram revivê-la. Agora, a companhia voltou a trabalhar em projetos conjuntamente.
A volta de Encerramento do Amor
Ada Luana também está na montagem da peçaEncerramento do Amor, que retorna à capital paulista para três apresentações. Neste espetáculo, ela é a atriz principal, e divide a cena com João Campos e Taís Felippe, dirigidos por Diego Bresani. É a versão brasiliense da obra Clôture de l’Amour, do dramaturgo francês Pascal Rambert.
A peça acompanha um casal que vive seus derradeiros dias de amor e um embate sufocante e desigual que surge desse descompasso. A atriz se encantou pela ousadia que o texto de Rambert exala, um desafio para ela como intérprete, mas também uma maneira de trabalhar com a potência das relações humanas.
Para dar vazão à complexidade de sentimentos, o espetáculo trabalha com um duelo de palavras, muito focado em discursos fortes que sintetizam a violência, as memórias e a bagagem dessas duas pessoas, a fim de discutir sobre nossa capacidade de escuta, diálogo e compreensão do outro. Para isto, cada personagem faz seu monólogo sobre o fim do relacionamento, como num ringue, separados por um número de sapateado.
A companhia expande a discussão levantada pelo texto ao inserir temáticas atuais importantes sobretudo por uma perspectiva de gênero, como abuso emocional, violência psicológica e machismo nas relações. Apesar de representar um casal, ela não fala somente do amor romântico, mas faz um retrato real e sem filtros da humanidade e suas relações.
A peça estreou no Cena Contemporânea 2018 – Festival Internacional de Teatro de Brasília – e passou também pelo Festival do Teatro Brasileiro/Janeiro de Grandes Espetáculos, em Recife e em Salvador.
Embora tenham estilos e temáticas completamente diferentes, as duas peças têm a assinatura da companhia na montagem. “São trabalhos muito distintos, feitos por dois diretores com escolhas diferentes, mas ambas têm uma linguagem que passa por todos nós, pois estamos há 15 anos juntos. Uma característica é a sujeira material no palco, as duas usam desse recurso, com fruta, confete e terra”, conta Ada.
A circulação dos espetáculos tem o apoio do FAC – Fundo de à Cultura do Distrito Federal. A Moscou! Um palimpsesto foi apresentado em Brasília e Rio de Janeiro. Encerramento do Amor passou por Belo Horizonte e depois de São Paulo será apresentado no Rio de Janeiro.
Ficha técnica A Moscou! Um palimpsesto
Direção: Ada Luana. Assistência de Direção: Júlia Rizzo. Dramaturgia: Ada Luana, Gabriel F. Elenco: Ada Luana, Ana Paula Braga, Camila Meskell, Filipe Togawa, Kalley Seraine, Taís Felippe. Iluminação e fotografia: Diego Bresani. Cenografia e figurinos: Roustang Carrilho. Direção Musical e Trilha Sonora Original: Filipe Togawa. Músicos: Filipe Togawa, Kalley Seraine. Designer Visual: Gabriel Menezes. Preparação de Canto: Michelle Fiúza. Produção: Taís Felippe, Camila Meskell e Ada Luana. Produção local: Junior Cecon – Plural Produções Artísticas. Intérpretes libras: Mirian Caxilé e Igor Calumbi.
Ficha técnica Encerramento do Amor
Texto: Pascal Rambert. Tradução: Marcus Vinícius Borja. Direção: Diego Bresani. Elenco: Ada Luana, João Campos e Taís Felippe. Iluminação: Diego Bresani. Fotografia: Henri dos Anjos. Cenografia e figurino: Companhia Setor de Áreas Isoladas. Produção: Taís Felippe. Produção local: Junior Cecon – Plural Produções Artísticas. Intérpretes libras: Mirian Caxilé e Igor Calumbi.
Serviço:
A Moscou! Um palimpsesto
Temporada: Dias 3, 4 e 5 de junho de 2022 – Sexta e sábado às 20h e domingo às 18h.
Ingressos: gratuitos, retirada pelo site do Sympla – https://bit.ly/38hZ0Vh
Duração: 90 minutos
Classificação etária: 14 anos
Galeria Dandi
Rua Barão de Tatuí, 17 – Sobreloja – Vila Buarque
Capacidade: 25 lugares
Telefone: 11 96319 2202
Encerramento do Amor
Temporada: Dias 7, 8 e 9 de julho de 2022 – Quinta e sexta às 20h e sábado às 17h.
Ingressos: gratuitos, retirada com 1h de antecedência
Duração: 80 minutos.
Classificação etária: 14 anos.
Oficina Cultural Oswald de Andrade
Rua Três Rios, 363 – Bom Retiro
Capacidade: 40 lugares
Informações para imprensa:
Adriana Balsanelli
Fone: 11 99245 4138